segunda-feira, 5 de setembro de 2011

De sol, de céu e de lua - diretrizes do nosso espetáculo

Os bebês não separam realidade de sonho. Por isso nosso espetáculo busca um apuro visual. Para estimular o público as cores fortes e primárias da arte pictórica de Joan Miró, com suas formas desconstruídas por uma apurada técnica, que busca, de modo agudo, o distanciamento das normas acadêmicas, conquistando a “infância do traço” e reencontrando (ou conquistando) a infância em plena maturidade profissional.
Ao encontro de Miró trouxemos a poesia de Manoel de Barros. Por muitos considerada surrealista, nada mais é do que a arte de um menino, que do auge de seus 95 anos, brinca de jogar com as palavras, pintando quadros poéticos com frases nonsense que desregulam os sentidos. Para Manoel “Arte não tem pensa:/ O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê./ É preciso transver o mundo. / Isto seja: / Deus deu a forma. Os artistas desformam. / É preciso desformar o mundo:/ Tirar da natureza as naturalidades.”
Crianças de todas as idades transvêem o mundo. E essa é a premissa da qual partimos para a construção deste espetáculo.
Em relação à linguagem, o bebê, por exemplo, só começa a estabelecê-la após os 12 primeiros meses. Ora, fazer um espetáculo com o recurso da blablação (gromelô) não fará a pessoa bebê entender melhor a situação cênica. Priorizamos então os mais velhos (crianças e adultos), permitindo-lhes a compreensão (daquilo que pode ser compreendido) através da linguagem falada, levando a ‘perturbação dos sentidos’ para as frases e orações, e não para as sílabas e letras. Para todos (bebês, crianças, jovens e adultos) priorizamos o trabalho corporal no auxílio para a narrativa dramática.
Para o bebê, teatro, dança e música são indissociáveis. Por isso o espetáculo é pleno de trilhas musicais e efeitos sonoros (ao vivo e em off) para auxiliar nessa narrativa não-linear, lírica e onírica estruturada pelos artistas criadores.
Na medida do possível se buscará (nossa estreia será dia 01-10-2011) o contato com as crianças por meio de outros sentidos, além do da visão e audição. O toque das atrizes em crianças que poderão estar em cena, o contato com esguichos, bolinhas de sabão, efeito de gelo seco (em geral com um perfume agradável), a utilização de tintas comestíveis na cena e a possibilidade de todas explorarem os detalhes do cenário no final do espetáculo, dará conta da proposta estésica objetivada.

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